“A minha prática explora a pintura e o desenho como um processo diário e evolutivo. Gosto de descobrir o meu trabalho através do fazer. Este desdobramento é importante porque abre espaço para a intuição e a descoberta, desafiando a nossa tendência humana para a previsibilidade e o controlo. São os acidentes e as mudanças de planos que me despertam interesse e dão vida e valor à obra. Uma necessidade de preservar o desconhecido.

Sinto-me atraído por temas que me são próximos: queerness, o corpo masculino, memórias e intimidade. Gosto de pensar que as minhas obras são pessoais, mas não são fechadas. Trabalho a partir de imagens de referência, tanto autorais como coleccionadas, e deixo-me guiar por aquilo que me atrai, mesmo que não compreenda logo o porquê à partida. Gosto de deixar a imagem surgir enquanto trabalho. A minha procura é por um espaço entre a figuração e a abstração, onde algo sentido possa tomar forma.

Trabalho principalmente com óleo, sem solventes, e estou constantemente a estudar o potencial e o comportamento da tinta. A superfície é igualmente importante, e preparo todos os meus suportes do zero, desde tela, MDF e papel, ajustando-os de acordo com as necessidades de cada obra. Pinto também em várias escalas, e costumo trabalhar em várias peças ao mesmo tempo. Precisam de crescer juntas e dialogar dentro do atelier.

No fundo, pinto para me manter próximo a algo interior. Interessa-me uma pintura que tenha a capacidade de conter complexidade, contradição e ternura. O estúdio é tanto um espaço físico como interno, onde a bagunça, a rotina e a sobreposição de tempo e material passam a fazer parte da experiência de fazer o trabalho.”

Sebastião Paz Costa (n. em 1995 no Porto, Portugal) é um artista a viver no Porto. Concluiu a licenciatura em Artes Plásticas, com especialização em Multimédia, em 2019, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP).